sábado, 2 de abril de 2011

Ponta Pé Inicial

Permitam-me ter a liberdade em falar por vossos nomes, mas sinto-me com esta obrigação; não tão só pela “importância” dos dias atuais, mas por acreditar que o exercício da cidadania, do respeito e da justiça, tem por necessidade ser feito cotidianamente.
Nós, cidadãos brasileiros, sempre tivemos a mania de reclamar. Há os que reclamam com convicção, por algo injusto e que necessita de mudança, mas infelizmente a maioria não sabe os motivos pelo qual eles mesmos reclamam. Reclamam às vezes porque alguém está reclamando, reclamam porque gostam de reclamar de tudo e de todos, enfim, reclamam por querer reclamar, sem motivos.
Com absoluta certeza, desde que me entendo como gente, o maior alvo das reclamações são sobre os nossos governantes. Historicamente vamos ter relatos de reclamações contra os administradores das Capitanias Hereditárias, dos governantes gerais nos primórdios do “descobrimento” das terras Brasilis; até dos Imperadores nós já reclamamos. Reclamamos também, com toda certeza dos presidentes da Velha República e da República Velha; dos Militares, do Sarney, Collor, Itamar, FHC e do Lula. Não reclamamos muito do Tancredo porque este morreu antes da posse.
[...]
Sabe por quê?
Porque o maior problemático e merecedor de todas essas reclamações não são os governantes, o problema está naquele que reclama. Sou eu, é você. Somos nós! O problema está dentro da gente.
Afinal, o que poderíamos esperar de um povo que sempre da um jeitinho? Um povo que valoriza o esperto e não o sábio? Um povo que aplaude o vencedor do BBB, mas não sabe o nome de um escritor brasileiro. Este mesmo povo admira o pobre que consegue ficar rico ilicitamente, e ainda pensa: porque não eu? Rir quando consegue puxar um gato da TV a cabo ou da internet do vizinho. O que esperar de um povo que não sabe o que é pontualidade? Que joga lixo na rua e reclama da sujeira. O que esperar, sinceramente, de um povo que não valoriza a leitura; que finge dormir quando um idoso entra no ônibus?
Porque iremos reclamar da Dilma, do Serra, da Marina, se nós mesmos saqueamos cargas de veículos acidentados nas estradas; estacionamos nas calçadas, muitas vezes debaixo de placas proibitivas; falamos no celular enquanto dirigimos; subornamos ou tentamos subornar quando somos pegos cometendo infração. Vai dizer que nunca ouvimos falar de troca de voto por areia, cimento, tijolo e até dentadura? Violamos a lei do silêncio; a Lei Seca aos poucos entra no esquecimento porque ainda dirigimos alcoolizados. Furamos fila nos bancos; damos atestados médicos sem estarmos doente; registramos imóveis com um valor abaixo do comprado, só para pagarmos menos impostos. Há os que mudam até a cor da pele para ingressar na universidade pelo sistema de cotas. Comercializamos objetos doados; compramos produtos piratas; diminuímos a idade dos filhos para não pagar passagem no ônibus; levamos das empresas que trabalhamos os envelopes, canetas, lápis, como se isso não fosse roubo. Falsificamos tudo, só não aquilo que ainda não foi inventado. E quem já viajou para fora do Brasil e quando voltou declarou ao fiscal aduaneiro exatamente tudo que trazia?
Entenderam?
O problema não é o Brasil, e sim os brasileiros.
Os políticos não se elegeram sozinho, não fizeram concurso; fomos nós que votamos, fomos nós que os colocamos lá.
Os governantes são reflexos de uma população, porque governantes somos todos nós. Governamos nossas vidas, nossa casa, nossa profissão. Queremos políticos honestos, mas não somos honestos com nós mesmo, muito menos com o próximo. Será que seriamos muito diferentes do Palocci, do Renan, do Arruda, do ACM?
Esses políticos, e todos os outros, saíram do meio desse mesmo povo o não? Eles têm família, qualidades e defeitos como todos nós. Reclamar de quê afinal?
O pior de tudo é que isso é a mais pura verdade. Então, uma humilde sugestão desse escriba, ainda errôneo, mas perfectível. Adotemos o quanto antes uma mudança de comportamento, começando por nós mesmos, onde for necessário. Se quisermos algo novo, precisamos fazer algo diferente, senão estamos fadados a viver na mesmice. Não é preciso mudar o mundo, basta consertarmo-nos. Fala-se tanto da real necessidade de deixarmos um planeta melhor para os nossos filhos, e que tal deixarmos filhos melhores para o nosso mundo? Nós somos os maiores exemplos para nós mesmos.

Vitor Hugo Gonçalves
Administração Geral / Facdesco

Um comentário:

  1. Muito bom o texto! A realidade retratada nua e crua. Gostei muito da iniciativa do blog, vou acompanhar sempre...

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